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O que permanece é a narrativa.

10/08/2014 13:43

O que permanece é a narrativa.

Fábio Oliveira Santos

            Por diversos motivos cabe um olhar diferente para a direção que a sociedade segue, não é um projeto pensado individualmente, muito aquém disso, para mim, é algo apontado socialmente que segue seu rumo de acordo com suas próprias inspirações.

            Historicamente as relações matrimoniais que tinham cunho de manutenção do poder de famílias imperiais também influenciavam o comportamento nuclear do desenvolvimento dos filhos, cabe ainda perceber que eram educados não pelos pais, mas por uma espécie de ama ou governanta. Pouca era a relação dos pais e filhos. Nota-se também que com o mesmo interesse, ou seja, a não divisão de bens, as famílias envolviam-se em relacionamentos parentais, nesse sentido o enfraquecimento da espécie é justificado, daí a loucura de séculos anteriores.

            Anos à frente percebe-se que a educação dos filhos, se é que se pode falar assim, dirigia-se apenas para trabalhar, crianças eram adultos pequenos que deveriam ajudar no sustento das famílias. Ainda nesse contexto não se fala de educação no sentido moderno, pois os filhos viam nos pais o modelo, o que não é dizer que existisse participação na educação, apenas um modelo.

            Esse modelo, parece-nos, é o atual, porém em fase de transição, pois as inspirações sociais são outras. A educação em sentido amplo, por meio de participação mais efetiva dos pais na construção da educação dos filhos permite reparar o insucesso de gerações anteriores, uma vez que não se tinha esse cuidado, o modelo que era distante agora se aproxima e influencia.

            Os insucessos anteriores são reavaliados, as novas gerações seguem outro caminho. Do ponto de vista biológico o desenvolvimento da criança nos primeiros anos é realizada por imitação, assim as pessoas mais próximas são os exemplos dos mais jovens, desse aspecto, os modelos são sempre as pessoas próximas, ou seja, os pais.

            Na escola uma pequena história ilustra isso. Há dez anos, determinada criança com mais ou menos quinze anos, rebelde e contestador de muitos aspectos como é próprio da juventude, deu-nos muito trabalho, não só do aspecto formal, mas também no desenvolvimento intelectual e da construção da personalidade.

            Aos poucos, construiu-se uma espécie de laço afetivo ou mesmo intelectual, ao passo que se conseguia conversar sobre muitas coisas, com o andar de Chronos, nossa relação aproximou-se mais, de certa forma fomos um modelo também. Os pais desse adolescente também se aproximaram da escola. Em determinada ocasião, em uma das reuniões bimestrais organizadas pela coordenação da escola, os pais desse menino procuraram-me e perguntaram como andava seu filho nas matérias, curiosamente percebi quando avaliei as notas que houve uma melhora significativa. Seu rendimento acadêmico avançou em proporções geométricas, resultado, acredito, tanto da aproximação da família quanto à relação com o professor.

            Após todos esses anos não o encontrei mais, mas aquele mesmo aluno mudou e se mudou. Os ventos o levaram o que permanece é a narrativa. Espero que a mudança tenha sido significativa para além muro escolar. Percebi que a formação humana não é o mesmo que a construção de uma parede ou automóvel, não se observa o resultado material, talvez nunca o veja. No entanto, o que permanece são as relações dos que estão próximos, daí a aproximação da família à escola.

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