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Sr. Wilson, o gato!

23/04/2015 13:15
Sr. Wilson, o gato!
 
Fábio Oliveira Santos
 
            Adoro surpresas, mas algumas mais que outras! Cheguei em casa e encontrei o Gato! Confesso que da longa tradição do clã Oliveira, sempre tivemos preferências por cães, ao invés de gatos. Felizmente, algumas tradições não são respeitadas pelos mais jovens!
 
            Papai e mamãe adoravam o Fila Brasileiro[1], tínhamos dois gigantescos, nem mesmo eu tinha coragem de aproximar-me deles, contentava-me com o Naruto, um Rottweiler que consegui do canil da polícia; dos monstros, somente os velhos tinham sua companhia. Marcão e Marquinhos, pai e filho! Nunca me disseram a razão dos nomes! Farei o contrário dos meus velhos! Mas, antes farei uma pequena revelação que me importa muito! Os dois cachorros e mais outros tantos morreram de velhice, porém com o Marcão foi diferente.
 
            Sempre tive medo dele, pela majestade, pelo tamanho, pela força, pela prontidão e por outros quesitos, ele era assustador, mas sempre protegeu os velhos, jamais me deixou aproximar dele, como se não tivesse respeito por mim, ou por ignorar a minha relação com os “doninhos”, assim que os velhos se intitulavam.
 
            Durante toda sua vida nunca mudou, sempre que retornava à Campinas, nossas relações pioravam, jamais conseguimos nos resolver, jamais se aproximou, muito pelo contrário colocava-me pânico. O tempo passou, papai foi visitar outro andar e ficou mamãe. Cronos é imperdoável! Também para o Guardião, o deus tempo não foi amigo!
 
            Passei as duas últimas semanas da vida do Guardião ao lado de mamãe, dura realidade. Marcão sofreu muito antes da partida, mas jamais perdeu sua majestade! Lembro-me que no último dia antes da injeção, encontramo-nos frente a frente, olhou-me nos olhos impassível e colossal como quem diz: eu permito, pode se aproximar. Aproximei-me com seu consentimento, Marquinhos estava a seu lado! Olhou-me e não reagiu, autorizou minha passagem! Durante meia hora não dissemos nem fizemos nada. Apenas nos olhamos, mas por algum motivo ele estava me dizendo a sua maneira que cumpriu o seu papel e agora era minha vez! Reconhecia-me afinal! Mas, antes do último suspiro, ainda rosnou mostrando os dentes e depois deu uma leve piscada!
 
Tristeza, devido à situação. Foi-se como viveu. Majestoso! Velho guardião!
 
            Dez anos se passaram! Outros desdobramentos! Árvores novas à sombra de velhas árvores, enquanto as folhas dançarem sempre haverá recomeço…
 
Quando éramos mais jovens assistíamos o desenho Looney Tunes, personagens principais um coelho matreiro e, diga-se, um pato negro que cospe enquanto fala. Evidentemente havia outros personagens. No entanto, os acontecimentos contemporâneos me levaram a um em especial. A Felícia, personagem que de tanto amor aos bichos, chegava a atormentá-los. “Não corra eu só quero te amar”, dizia enquanto perseguia-os com todo seu amor. Minha filha poderia ser a Felícia!
 
Sou retrógrado e adoro marcar meu espaço, não gosto de muita mudança. Principalmente quando marquei meu território! Qual não foi a minha surpresa. Os filhos repetem os pais em muita coisa. Cheguei em casa e um gato estava no meu lugar. Inicialmente começamos a nos olhar, uma disputa no ar. Novamente lembrei-me do Marcão. Confiança nunca, até que se prove o merecimento. Creio que ele também!
 
Com o passar do tempo e a convivência me afeiçoei ao bicho, certa vez li que nada aproxima mais as pessoas que a divisão do “sal”, ou seja, do sofrimento. Mesmo assim, não era um humano, era um gato. Inimigo mortal meu e do Clã! Certa vez todos saíram, permanecemos eu e meu inimigo! Olhávamos um para o outro. Percebi que erámos iguais. Abaixei as armas e ofereci minha amizade. Desconfiado, mas retribuiu. Silêncio e cumplicidade solidifica muita coisa. Não foi diferente! Vi o Marcão em seus olhos!
 
Até então àquele era um estranho para mim, nem mesmo o seu nome eu sabia. Só percebia que minha filha parecia a Felícia. Comecei a reparar mais nas relações e percebi que não era a Felícia, mas outro personagem, Denis o pimentinha, também foi um desenho da minha juventude. Na prática tínhamos um menino muito levado que adorava o Sr. Wilson, porém só incomoda com suas pseudo ajudas, consequentemente o Sr. Wilson ficava muito chateado. Assim via a relação entre minha filha e o gato.
 
Tomei coragem e perguntei o nome do felino. Responderam-me: Rafael, pois tem olhar de anjo.
 
Respondi: sim, mas pelo sofrimento para o Sr. Wilson. Gostaram da ideia e o nome passou a ser esse: Sr. Wilson Rafael.
 
Meu gato! Nosso gato! Sr. Wilson Rafael!
 

Sr. Wilson!

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